O dia de hoje ficou intitulado pelo mercado financeiro como ‘Super terça’, isso porque a data marcou a divulgação de dois importantes dados para a economia brasileira, e também para os seus investimentos.
Às 8h foi divulgada a ATA do Comitê de Política Monetária (Copom), que deu mais pistas sobre o que o Banco Central pretende fazer com a Selic na próxima reunião, que acontece em setembro, bem como com relação ao ciclo de alta da taxa.
Já às 9h saiu o Índice Nacional de Preços ao Consumidor, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que confirmou as expectativas do mercado com relação à uma deflação e trouxe também que o dado representa a maior deflação da história.
IPCA: Inflação de junho cai ,68% e é a maior deflação desde o Plano Real
O IPCA caiu 0,68% em julho, desacelerando em relação à alta de 0,67% apurada em junho, de acordo dados divulgados pelo IBGE. Trata-se da menor taxa registrada desde o início da série histórica, iniciada em 1980, bem como a maior deflação desde o Plano Real.
No entanto, apesar da deflação, alguns produtos continuam pesando no bolso do consumidor e refletindo no IPCA. O destaque ficou com o grupo de alimentos, que apresentou uma alta de 1,30%, e maior impacto positivo, de 0,20 ponto percentual.
Outro grupo que apresentou destaque foi o de transportes, impulsionado pela redução nos preços dos combustíveis (-14,15%). Vale dizer que a inflação de junho foi impactada pelas medidas de controle nos preços dos combustíveis e energia elétrica, sancionadas pelo Governo Federal.
Em julho, o segmento registrou uma queda mais intensa de 4,51%, contribuindo para o maior impacto negativo (-1 ponto percentual) no índice.
Vestuário foi mais um setor que compactuou para o resultado da inflação, apresentando uma desaceleração de 1,67% para 0,58%. Também mostrou ritmo de desaceleração o grupo de saúde e cuidados pessoais passando de 1,13% para 0,49%.
Comentário time de economia da CM Capital sobre o IPCA
IPCA
Resultado: -0,68% MoM (10,07% YoY)
Expectativa do mercado: -0,65% MoM (10,07% YoY)
Anterior: 0,67% MoM (11,89% YoY)
A característica da inflação é melhor do que vimos nos meses anteriores, mas não é boa. O arrefecimento mais expressivo é gerado no mercado internacional ou é gerado por medidas legislativas, e, em magnitude muito menor, por conta da eficácia da política monetária.
O índice de difusão nos mostra que existe um nível de contaminação inflacionária excepcionalmente elevado na economia doméstica mesmo extraído o efeito do grupo de alimentação no domicílio, que é amplamente afetado por movimentos climáticos.
Além disso, é esperado que, com os novos estímulos fiscais que começaram a ser pagos em agosto (auxílio e vouchers), a inflação volte a acelerar, e, diante de uma economia com grande nível de dispersão inflacionária e com inflação de 2 dígitos por 11 meses consecutivos, há riscos reais de desancoragem das expectativas no curto e médio prazo, com ônus sobre o longo prazo.
Banco Central divulga ATA do Copom e indica possível fim do ciclo de alta da Selic
Outro grande destaque foi a ATA do Copom, divulgada pelo Banco Central, que deixou no ar a possibilidade de interpretação para um possível fim do ciclo de alta da Selic. A instituição sinalizou, mais uma vez, que irá avaliar a necessidade de ajuste residual de sua principal ferramenta no combate à inflação no próximo Copom, marcado para setembro.
No documento, a instituição financeira aponta que trajetória de juros pode terminar em 13,75% a.a. em 2022, e reduzir para 11% em 2023 e 8% em 2024. No comunicado da semana passada, quando o Copom anunciou a alta de 0,50 ponto percentual, que elevou a Selic para 13,75%, a autoridade monetária já tinha comentado que talvez fosse preciso um reajuste mais brando, de 0,25 pp, por conta do desenvolvimento negativo dos indicadores, além do efeito negativo proporcionado pelas medidas fiscais expansionistas recentemente implementadas.
Comentário time de economia da CM Capital sobre a ATA do Copom
Contrariando a comunicação adotada em atas anteriores, onde optava por um tom mais neutro e generalista com relação às principais variáveis de impacto da política monetária, o Banco Central deu um nível maior de detalhamento dos parâmetros utilizados para sua tomada de decisão no documento divulgado hoje, explorando principalmente aspectos da economia doméstica que vinham causando preocupação para o mercado, porém, que ainda eram de difícil mensuração.
Destaque neste caso deve ser feito para os componentes que afetaram a dinâmica da inflação doméstica, com foco nos efeitos potencialmente inflacionários causados pela PEC 1, que devem estimular a demanda local, especialmente por bens de consumo não duráveis, além de poder ser transbordada, ainda que em menor nível, para o setor de serviços.
A utilização de uma política fiscal desta natureza, como apresentado na ata, dificultará a ação da política monetária, postergando o início de seu efeito mais robusto, cuja expectativa inicial era o segundo semestre deste ano. Isto não só contribuiu para a manutenção do ciclo de alta nos juros, como deve fazer com que a taxa tenha que permanecer alta por mais tempo, com vistas a garantir a convergência da inflação para o centro da meta no horizonte de relevância da instituição.
Este último ponto trata-se inclusive de outro importante destaque do comunicado, demonstrando a dificuldade que a autoridade monetária enfrenta para combater a inflação na atual conjuntura, que se enraizou de maneira significativa tanto nos grupos com maior volatilidade, como no núcleo de composição do indicador.
A sinalização de que o horizonte passa a considerar o primeiro trimestre de 2024 é negativa, pois sugere a possibilidade de não ser possível entregar a inflação dentro das metas propostas pelo RMI por mais um ano.
Apesar de refletir em boa medida o mesmo comportamento adotado pelo Banco Central dos países desenvolvidos, que já trabalham com o horizonte de 2024 como meta para o combate à inflação, o modelo de ano-calendário adotado no Brasil faz com que uma mensagem como a de hoje seja considerada negativa, jogando mais pressão sobre o trabalho da autoridade monetária.
Ainda no cenário doméstico, chamou atenção também a análise apresentada sobre a dinâmica recente do mercado de trabalho e seu impacto no PIB potencial do país. Apesar do crescimento do número de vagas indicar uma redução do hiato do produto mais rápido do que era imaginado, as características desta retomada, que tem sido focada no setor de serviços, onde há alto nível de informalidade e estão os postos com menor média de remuneração, faz com que o fechamento deste gap deva ser acompanhado com mais proximidade.
Ademais, o próprio efeito da política monetária, que tende a afetar primeiro o setor de serviços, deve reverter este quadro ao longo do segundo semestre e especialmente no próximo ano, trazendo uma perspectiva negativa para o nível de atividade econômica.
Por fim, menção positiva pode ser feita à evolução do cenário internacional, que apesar de ainda desafiador no curto-prazo, começa a demonstrar sinais de estabilização, resultado especialmente do efeito das políticas monetárias contracionistas adotadas por países desenvolvidos, fazendo com que o combate à inflação tenha como preço uma desaceleração, ou mesmo uma recessão, nas principais economias do mundo. Isto deve colaborar para o arrefecimento dos preços mais voláteis do IPCA atualmente, com destaque para os combustíveis.
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