A inflação no Brasil e nos Estados Unidos tem sido o grande destaque econômico de 2021. Isso porque os Banco Centrais, que definem as políticas monetárias dos principais países capitalistas e tem feito uso dela para aquecer a atividade, também tem como função controlar o nível de preços.
De modo geral, quando a inflação está elevada e a atividade aquecida, os Bancos Centrais elevam a taxa de juros por meio da retirada de dinheiro da economia, desincentivando, assim, o consumo e arrefecendo a inflação consequentemente. De forma análoga, quando a inflação e a atividade estão baixas, os Bancos Centrais cortam a taxa de juros, elevando, assim, a disponibilidade de moeda, com vistas a facilitar o consumo e a aquecer a economia.
A POLÍTICA MONETÁRIA DO BRASIL
Nos Brasil, a política monetária passou a ter um mandato duplo no início deste ano. Por aqui, o regime de Metas para a Inflação (RMI) e a busca pela maximização do emprego também são levadas em conta para a definição da taxa de juros.
Neste momento, o Brasil possui uma inflação acumulada em 12 meses de aproximadamente 9%, bem acima do limite superior do RMI, que é de 5,75% para 2021. O PIB também está crescendo satisfatoriamente. No primeiro trimestre, houve crescimento de 1,12%. Além disso, o mercado espera, que ao final do ano, a economia doméstica cresça mais de 5%. Diante deste cenário, o BCB optou por modificar a trajetória da Selic para controlar o nível de preços e permitir que o crescimento não seja afetado por um problema inflacionário grave.
A POLÍTICA MONETÁRIA DOS ESTADOS UNIDOS
Nos Estados Unidos, o regime inflacionário é um pouco diferente. Por lá existe apenas uma meta para a inflação, sem limites superiores e inferiores como no Brasil. Outra diferença fundamental é a sobre a forma como o índice é analisado. Por aqui, consideramos a inflação acumulada em 12 meses, ao passo que o sistema norte-americano considera a média anual dessa inflação acumulada em 12 meses.
A diferença entre ambas as metodologias tem impactos importantes sobre a condução da política monetária. No sistema brasileiro, os choques inflacionários acabam impactando fortemente a condução dessa política porque muitas vezes não existe tempo hábil para que eles sejam revertidos dentro do ano calendário. O mecanismo dos Estados Unidos, por sua vez, suaviza os choques e evita que o Federal Reserve (Fed) tenha que modificar a política monetária por conta de choques que pouco tem a ver com o nível de aquecimento econômico local.
A CONDUÇÃO DA POLÍTICA MONETÁRIA
A diferença metodológica tem grande impacto sobre a condução da política monetária recente de ambas as nações. Se o mecanismo americano fosse aplicado ao Brasil, a inflação estaria abaixo do limite superior do RMI fixado para 2021. De forma análoga, se o mecanismo brasileiro fosse aplicado aos Estados Unidos, a inflação estaria fora do aceitável para os padrões locais (aproximadamente 5,3%, ao passo que a meta norte-americana é de 2%).
É claro que a forma como essa inflação é analisada traz impactos sobre as economias. Como nos Estados Unidos a análise é feita sobre a inflação suavizada, os choques pontuais não têm relevância para modificar a trajetória da política monetária, ao passo que, no Brasil, esses movimentos obrigam o BCB a agir rápido e fortemente. Os movimentos inflacionários que pressionaram os índices lá foram os mesmos movimentos inflacionários que pressionaram os índices aqui dentro. A revisão sobre o nível de atividade também foi semelhante, ambas as economias tiveram sus números reajustados para cima, mas a reação das autoridades monetárias foi diferente. Por aqui, saímos de uma taxa de juros de 2,00% ao ano e estamos caminhando rumo ao patamar positivo, que, de acordo com o mercado, deve ficar acima de 7% ao ano. Nos Estados Unidos, não houve nenhuma mudança sobre a política monetária, que só pode seguir extremamente estimulativa por conta do mecanismo de controle inflacionário local.