A economia do planeta está encolhendo? Entenda o cenário atual e como o Brasil pode ser afetado
Com as maiores economias mundiais entrando em um cenário de aperto monetário, o temor de uma possível recessão global se instaura.
Um estudo do Banco Mundial alerta para o risco de recessão em 2023, publicado em um momento de desaceleração da economia global e de recuos drásticos vindos dos EUA, China e Zona do Euro.
O que é uma recessão global
Uma recessão global é um encolhimento da economia, seja por meio de processos inflacionários, expansão de crédito ou grandes acontecimentos como pandemias e guerras.
Em momentos de recessão, é comum que haja falências, desemprego, redução na qualidade de vida da população, queda nos investimentos e aumento da dívida.
De forma mais direta, uma recessão local pode ser identificada tecnicamente pelo declínio consecutivo de dois trimestres do PIB, no âmbito do Banco Mundial, o fenômeno é indicado por uma “… uma contração no PIB real global per capita acompanhada por um amplo declínio em várias outras medidas da atividade global.”.
Na prática, definir ou antecipar uma recessão não é tão simples, já que existem uma variedade de dados e indicadores que podem apontar para uma economia saudável.
Os dados econômicos não preveem cenários, apenas apontam o que já está em andamento. Os indicadores mensais sobre o nível de atividade, emprego, vendas no varejo e expectativas podem ou não se concretizarem, podendo ser afetados por fatores externos ao mercado.
Em certos momentos, alguns indicadores podem anunciar uma contração econômica, enquanto outros indicam uma posição contrária.
A missão de identificar uma recessão é complexa e incerta, então vamos entender o cenário atual e por que o temor crescente do mercado sobre uma possível recessão global.
Por que o temor de uma recessão?
De acordo com o relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI), o futuro da economia global é pessimista, puxado principalmente, pela Guerra entre Rússia e Ucrânia, pelos longos lockdowns da China e pela queda no consumo norte-americano.
O FMI prevê que o crescimento global desacelere a 2,6% este ano e a 2% em 2023. Levando a um dos piores desempenhos desde 1970. Vale lembrar, que mesmo que o valor tenha reduzido, a previsão é de que haja crescimento no PIB, apenas em uma proporção menor.
A contração do Produto Interno Bruto dos EUA, uma das maiores economias do mundo, em duas leituras seguidas também é um indicador de desaceleração econômica.
A ideia de uma possível recessão vem de diversos fatores. O aumento da inflação global, a Guerra entre Rússia e Ucrânia e as dificuldades para estabilizar as cadeias de produção após os impactos causados pela pandemia são alguns deles.
A alta dos preços, principalmente nos setores de energia e alimentos, é um dos motivos que vem puxando a Taxa de Juros de diversos países para cima, sinalizando um aperto monetário.
A lista de Bancos Centrais que subiu os juros é longa, nas últimas divulgações de política monetária, apenas China e Japão não seguiram o tom contracionista, mantendo a taxa de juros no mesmo nível, apesar da depreciação recente do iene para as mínimas em mais de duas décadas.
O FED, Banco Central dos EUA, divulgou uma alta de 0,75 ponto porcentual, o Banco da Inglaterra subiu a taxa em 0,5 p.p., que saiu de 1,75% para 2,25%, e o Banco Central Europeu teve um aumento de 0,75 p.p.
A política monetária contracionista global é inédita nas últimas 5 décadas e tem como foco estabilizar a inflação central global em cerca de 5% em 2023.
Qual a dimensão da recessão?
Alguns fatores que iniciaram a previsão negativa podem se intensificar nos próximos meses trazendo mais consequências para a economia global.
O Relatório do FMI alerta para uma possível parada súbita das importações de gás da Rússia, em decorrência da Guerra; novas ondas de Covid e lockdowns e uma escalada da crise do setor imobiliário chinês, podem desacelerar ainda mais o crescimento chinês; conflitos geopolíticos podem complicar a cooperação global; e o controle da inflação pode deixar mercados mais apertados, levando ao endividamento de mercados emergentes e economias em desenvolvimento.
Também é esperado que a taxa de juros dos principais Bancos Centrais suba em pelo menos 2 pontos porcentuais adicionais para controlar uma inflação alta persistente, com interrupções contínuas na cadeia de abastecimento e altos preços da energia.
Em publicação do Banco Mundial é indicado que os líderes políticos estabeleçam planos fiscais a médio prazo e construam políticas públicas para melhorar taxas de desemprego, ajudar famílias vulneráveis e fortalecer redes de comércio global.
É importante ressaltar, que mesmo que alguns países não passem por um momento de contração econômica internamente, apenas os países do G7 (EUA, Alemanha, Canadá, França, Itália, Japão e Reino Unido) correspondem a quase 50% do PIB global, portanto uma desaceleração dessas economias acaba afetando indiretamente o resto do mundo.
E o Brasil no meio de tudo isso?
O Banco Central do Brasil se adiantou no aumento da taxa de Juros, que vem em uma crescente desde maio de 2021. Na última reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM), a taxa Selic foi mantida em 13,75%, uma decisão considerada cautelosa e pensada para avaliar os impactos do aperto até agora, conforme a ata do Comitê.
Na ata consta uma argumentação acerca de um aumento residual da taxa em 0,25 p.p. para afirmar o comprometimento do Copom com a estratégia tomada no último ano “diante da elevação das expectativas de inflação e da projeção no cenário de referência para o ano de 2024, em ambiente de incerteza sobre o nível do hiato do produto e a dinâmica da atividade”.
Em um momento que o juro brasileiro encontra uma brecha no crescimento, a política monetária global causa um entrave.
O aumento dos juros globais encabeça uma cadeia de reações. A desaceleração das grandes economias impacta o comércio global, que leva a queda do preço das commodities, por exemplo, dificultando a exportação.
Mas o cenário macroeconômico brasileiro também pode servir como amortecedor da recessão global. A taxa de juros alta mantém o Brasil como um país atrativo para investidores estrangeiros.
A queda do preço das commodities pode contribuir com a desaceleração da inflação. Já vemos alguns sinais dessa queda, com as últimas leituras de índices inflacionários que apresentaram deflação nos números, principalmente no setor de transportes, puxado para baixo pela queda no preço dos combustíveis.
De maneira geral, as políticas internas têm causado maior preocupação no mercado doméstico do que o temor a recessão. Algumas medidas aprovadas esse ano podem maquiar o cenário macroeconômico.
O momento é delicado e uma retomada em um ritmo forte de crescimento pode estar longe. O mercado terá mais clareza dos rumos da economia no pós eleições, com um plano fiscal bem definido.
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