Por Ouro Preto Investimentos
“Inflação em torno de 3,5% ao ano, com Selic a 6% seria ótimo para a economia brasileira”, afirma João Peixoto, sócio da Ouro Preto Investimentos.
Executivo falou sobre a atual conjuntura da economia, oportunidades que ela pode trazer para os investidores e planos da gestora neste ano.
Como as mudanças na conjuntura de mercado afetam a gestão de fundos de investimento
Sócio e diretor da Ouro Preto Investimentos, João Baptista Peixoto Neto comentou sobre a escalada da Selic, da inflação e de como o comportamento dos investidores se moldou a essa nova realidade. Peixoto, que é formado em Direito pela Faculdade de Direito do Largo do São Francisco da USP (Universidade de São Paulo), além de mestre em Direito Internacional pela mesma universidade, é também é especialista em Produtos Financeiros e Gestão de Riscos pela FIA/FEA/USP. A partir da experiência na criação de mais de 300 fundos de investimento e gestão de mais de R$ 10 bilhões pela Ouro Preto, ele falou também sobre desafios que o mercado deve enfrentar, oportunidades e diferenciais que investidores encontram ao aplicar seu capital em gestoras de recursos de terceiros.
Entre 2021 e 2022, a dinâmica do mercado mudou: com a bolsa em queda e juros em alta, a renda fixa tem se tornado cada vez mais atrativa para os investidores, que vinham se multiplicando na bolsa. Como essa mudança afeta a estratégia de negócio da Ouro Preto?
O foco principal da Ouro Preto é a gestão de fundos de crédito privado, especialmente de FIDCs. Embora tenhamos também fundos que investem em todas as classes de ativos existentes no mercado.
Com o atual aumento da taxa de juros e a queda da bolsa de valores, grande parte dos investidores brasileiros retornou à renda fixa. Na verdade, a renda fixa sempre foi a preferência do investidor brasileiro em razão do nosso histórico de anos e anos de altas taxas de juros. Mesmo no longo prazo, por exemplo, se tomarmos como referência duas ou três décadas para efeito de comparação, os ativos de renda fixa renderam mais do que os investimentos em ações. Quero dizer, o CDI e a SELIC superaram o IBOVESPA no médio e longo prazo. Isso não deveria ocorrer se tivéssemos um histórico de taxas de juros mais baixas.
Em um primeiro momento, o aumento da taxa de juros beneficia a estratégia de negócio da Ouro Preto. Mas, se a alta persistir por muito tempo, isso poderá ser ruim, já que poderia levar a um aumento da inadimplência e a taxas menores de crescimento econômico, afetando, portanto, a performance de toda a economia e de todos os ativos.
O curto período, recente, de taxa básica de juros baixíssima (2%) na gestão de Campos Neto à frente do BC foi uma exceção em nossa história. Todos torcemos para que a inflação seja controlada e se aproxime do centro da meta e o Banco Central possa, novamente, reduzir as taxas de juros, mas sem os exageros anteriores. No mundo ideal, a taxa de juros básica deveria ficar sempre acima da taxa de inflação, mas ambas sob controle, sem exageros. Por exemplo, uma inflação em torno de 3,5% ao ano, com uma SELIC a 6%, seria ótima para a economia brasileira e excelente para a estratégia da Ouro Preto.
Quais são os desafios que se apresentam para o mercado financeiro neste ano e qual será a estratégia para a gestão dos fundos da Ouro Preto?
Os desafios são o aumento da inflação em todos os países e, consequentemente, o aumento das taxas de juros, especialmente nos EUA, com a possibilidade de isso provocar o estouro das bolhas das bolsas e dos demais ativos em todo o mundo, levando a economia americana e mundial a um quadro recessivo.
É notório que vivemos novamente uma situação de supervalorização dos preços de vários ativos, como nas crises de 2001 (crise ponto com: da bolha da internet) e de 2008 (crise do subprime), com a diferença de que agora todos os ativos (ações, imóveis, criptomoedas etc) ficaram muito valorizados por conta das políticas adotadas por todos os governos mundiais durante a pandemia de COVID-19, que emitiram muita moeda e liberaram recursos em excesso, o que levou, em um primeiro momento a um entesouramento de recursos, gerando uma grande valorização nos preços das ações e de imóveis, um excesso de liquidez em todos os mercados e, agora, gerando essa inflação nos preços dos bens de consumo. Parece que estamos vivendo novamente o estouro de uma bolha de preços de ativos que poderá levar a uma nova crise mundial, mas talvez agora com consequências menos nefastas, já que, desta vez, tudo isso era bem previsível.
Na visão do senhor, quais setores podem oferecer oportunidades promissoras para os investidores?
No atual momento, o melhor investimento seria em renda fixa tradicional e em crédito privado, já que a taxa de juros está bem alta, a inflação já começa a ceder e o valor das ações, de imóveis e outros ativos continua caindo vertiginosamente.
Selic em alta também significa crédito mais caro. De que forma esse cenário afeta a Ouro Preto, que conta com diversos fundos creditórios?
Historicamente, a taxa de juros de referência sempre foi muito alta no Brasil e, por conta disso, o investidor brasileiro, sempre preferiu a renda fixa em comparação a outros investimentos de maior risco e volatilidade, como o investimento em ações. Como explicado acima, em um primeiro momento, esse aumento na taxa básica é muito bom para os fundos de renda fixa e de crédito privado, principalmente porque vínhamos de uma taxa básica muito baixa, de apenas 2%, inferior à inflação. Mas é importante, no médio prazo, que a inflação esteja sob controle e o BC possa baixar novamente a taxa Selic.
Esse material foi desenvolvido para o blog CM Capital com o intuito de informar os clientes sobre as nuances do mercado financeiro. Para mais conteúdos, visite o blog.