ABV espera aumento de 12% nas vendas e R$ 20 bi injetados na economia no período
Faltam quase dois meses para a Copa do Mundo da Fifa de 2022, que será disputada pela primeira vez no Catar, um país Árabe. O jogo de abertura entre anfitrião e o Equador acontece no dia 20 de novembro, com a cerimônia de abertura realizada antes do jogo. O término do campeonato está previsto para 18 de dezembro.
Mas, apesar de estar tão longe, já que o Catar fica localizado a quase 12 mil quilômetros do Brasil, a Copa do Mundo vai movimentar, e muito, alguns setores nacionais, entre eles o de serviços e o comércio.
Ainda se recuperando dos estragos da pandemia, neste ano, projeta-se que o comércio brasileiro tenha um movimento atípico com três grandes eventos que vão ocorrer entre os meses de novembro e dezembro: a Copa do Mundo, a Black Friday e o Natal.
Essas datas comemorativas devem aumentar as vendas em 12%, na comparação ao primeiro semestre de 2022, segundo dados da ABV (Associação Brasileira do Varejo), além de injetar mais de R$ 20 bilhões na economia.
Mas, este setor não é o único que sente os efeitos do maior campeonato de futebol do mundo. Bens, serviços e turismo também são impactados pelas partidas, que, apesar de não acontecerem no Brasil, ainda são capazes de movimentar uma nação torcedora.
Segundo uma pesquisa do banco Goldman Sachs, os mercados dos países campeões tiveram uma melhora de desempenho em quase todas as ocasiões desde 1974, com um índice médio 3,5% superior ao benchmark global.
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O impacto da Copa do Mundo no mercado financeiro
Não só nos setores mencionados acima, mas também nas bolsas ao redor de todo o mundo, dados mostram que em dia de jogo, até os negócios ficam de lado.
Segundo uma pesquisa [2014] do Banco Central Europeu, que analisou negociação das principais ações nas bolsas de valores de nove países europeus, quatro países da América Latina e um país da América do Norte e África, em dia partidas as transações financeiras caem de forma considerável.
O primeiro fato pontuado pelo estudo mostra que em dias de jogos, a atividade de negociação cai acentuadamente, especialmente se a seleção nacional for uma das competidoras. Em comparação com as circunstâncias normais do mercado, o número médio de negócios cai 45% se o time nacional está jogando, enquanto o volume cai cerca de 55%.
O declínio na atividade de negociação também é acompanhado por um menor nível de atividade dos formadores de mercado. Durante os jogos da seleção nacional, o número de cotações oferecidas é cerca de 30% menor do que o contrário.
Em segundo lugar, o BCE indicou como os gols marcados por qualquer equipe levou a um declínio ainda mais forte no número de negociações que chega a ser 5% maior quando a seleção nacional joga.
Além disso, descobriram que a atividade do mercado já está significativamente abaixo da referência antes da partida começar, e continua a ser menor durante os 45 minutos após a partida ter terminado. Durante o intervalo, a atividade de negociação se recupera um pouco em comparação com o real tempo de jogo, mas permanece substancialmente menor do que nos dias de referência.
E em terceiro lugar, o BCE mostra que a formação de preços é afetada durante as partidas de futebol. A comparação sugere que o futebol gerou níveis relativamente altos de desatenção, o que coincidiu com atualização menos frequente dos preços das ações. Em consonância com isso, o Banco Central Europeu também encontrou um declínio significativo de cerca de 20% na dispersão dos retornos das ações individuais.
Voltando aos setores
De acordo com Nathalie Martins, economista e estrategista do Research de Varejo da CM Capital, os setores de serviço e comércio devem responder de forma positiva ao impacto da Copa do Mundo.
“O comércio pode responder de forma positiva, a mobilização da Copa pode aumentar o faturamento de alguns segmentos do comércio que são convenientes como bares e restaurantes, que devido a flexibilização das medidas sanitárias gera expectativas. Porém, vale ressaltar que os níveis de inflação e taxa de juros ainda estão longe de atingirem patamar aceitável, o que pode comprometer o poder de compra desfavorecendo o comércio e serviços”, explica a economista.
Por outro lado, a estrategista de investimentos ressalta que “o setor de serviços em linha com o comercio pode ser beneficiado em partes, com aumento pontual pela procura de determinados serviços. No entanto, os segmentos podem ser impactados negativamente devido a diversos fatores, como horários restritos de funcionamento e queda de demanda”.
Já para Alex Carvalho, analista CNPI da CM Capital, os setores de turismo, serviços e comércio podem apresentar uma variação mais positiva no Ibovespa durante o período de Copa do Mundo. Além disto, o turismo também merece certo destaque, principalmente no país que sediará os jogos, quando o assunto é Copa do Mundo. “O segmento é impulsionado, o país ganha visibilidade atraindo visitantes de todas as partes do mundo, e os ativos tendem a responder positivamente a essa movimentação”.
“O setor de turismo, aviação, tende a movimentar um pouco mais o índice, porque ano de Copa do Mundo fomenta mais esse segmento, principalmente, no país sede, neste caso o Catar. Isso acaba gerando uma renda maior, bem como uma expectativa maior para essas ações trabalharem no positivo, o que influencia nos resultados dos próximos trimestres. Então, aviação, junto com turismo, chama atenção. Outros setores que engajam bastante são serviços e comércio, tendo em vista que existe um aumento da demanda, como alimentos e bebidas, neste período sazonal do campeonato”, explica o analista CNPI.
“Empresas para ficar de olho e talvez encontrar boas oportunidades em época de Copa do Mundo seria a própria CVC, Gol, Azul, o setor de comércio, principalmente no setor de exportação de alimentos processados, como JBS, Marfrig. Estes são alguns ativos que é possível se beneficiar neste cenário sazonal que movimenta o mundo inteiro”, finaliza Alex Carvalho.
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O que esperar das pesquisas mensais?
Vale dizer que todos os meses dois dados muito importantes são divulgados e servem como um termômetro do nível de atividade dos setores: a Pesquisa Mensal de Serviços e a Pesquisa Mensal do Comercio.
A melhora nestes indicadores pode sinalizar aquecimento no comércio e serviços, aumentando a expectativa de maior capacidade de geração de lucros dessas empresas.
De acordo com projeções do time de economia da CM Capital, levando em consideração a sazonalidade do período, a Pesquisa Mensal de Serviços deve apresentar variação mensal positiva de 1% em novembro (3,5% YoY). Já em dezembro, o dado tende a disparar e apresentar um crescimento de 7,2% na comparação mensal (1,5% YoY). Já para a Pesquisa Mensal do Comércio, também com a sazonalidade do período, as projeções apontam uma alta de 4% MoM em novembro (-2,0% YoY) e 12,3% MoM em dezembro (-5,6% YoY).
“No entanto, ao buscar um impacto da PMS e PMC em seus respectivos setores na bolsa, é necessário cautela na avaliação de entrada considerando apenas os indicadores, visto que tais segmentos são muito sensíveis às mudanças de cenário econômico. Ou seja, mesmo que o mercado esteja favorável para estes indicadores, os efeitos de alto custo gerados por inflação dos insumos consumidos podem corroer a lucratividade”, explica Martins.
Sendo assim, as pesquisas possuem certa influência pontual sobre a cotação de seus respectivos setores na bolsa de valores. “Partindo da teoria de que o mercado precifica tudo, a divulgação dos indicadores favorável ou acima do esperado pode beneficiar a especulação sobre esses ativos”, finaliza.
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