Muitos acontecimentos movimentam o mercado financeiro nesta terça-feira (23), mas alguns merecem destaque: segundo levantamento, setor do agro vê renda subir; bancões são responsáveis por concentrar 78% dos lucros; Ipea contesta aumento do número de brasileiros em situação de insegurança alimentar ou com fome. Saiba mais abaixo!
Bancos brasileiros concentram 78% dos lucros
De acordo com um levantamento solicitado pela Folha de São Paulo ao Banco Central, o lucro líquido somado no ano passado do Itaú, Bradesco, Santander, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil foi de R$ 103,5 bilhões.
Ou seja, Dos R$ 132 bilhões de lucro líquido registrados no sistema bancário em 2021, 78% ficaram com os cinco maiores bancos do país –Itaú, Bradesco, Santander, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil.
Segundo os balanços das instituições, o Itaú foi o banco privado com o maior lucro líquido contábil em 2021, com R$ 24,9 bilhões. Em seguida vem Bradesco (R$ 21,9 bilhões) e Santander Brasil (R$ 14,988 bilhões).
Entre as instituições públicas, o BB (Banco do Brasil) vem na frente, com R$ 19,7 bilhões. A Caixa (R$ 17,2 bilhões) vem na sequência. Os dados do BC têm ajustes para eliminar eventos não recorrentes. O montante de R$ 132 bilhões foi 49% superior ao lucro líquido registrado pelos bancos em 2020 e 10% acima do observado em 2019.
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Explicando os por quês
A alta nos lucros dos maiores bancões do Brasil foi puxada por melhores margens com o avanço dos juros, a redução de despesas com provisões (dinheiro reservado para cobrir calotes) e ganho de eficiência, conforme apontou o documento do BC, obtido pela Folha de SP.
De acordo com o jornal, o alto percentual de lucro na mão de poucas instituições é considerado por especialistas como um sinal da concentração do setor no Brasil, algo que a Febraban, entidade representante dos bancões, nega. Para a instituição, o setor bancário é “extremamente competitivo e aberto à entrada de novos concorrentes”.
Prova disto é que o Banco Central tem implementado medidas para aumentar a competitividade entre as instituições financeiras, dentre os esforços realizados pela autarquia, temos a regulamentação das fintechs, a criação do open banking e o lançamento do open finance.
De acordo com Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, afirma que a concentração bancária caiu de 81,2% em 2018 para 77,6% em 2020. Ele disse em maio que o dado de 2022 deve estar perto de 71%.
Enquanto isso, bancões americanos são pegos no pulo
Grandes bancos americanos devem pagar até US$ 1 bilhão em multas para a SEC (CVM americana) por seus funcionários terem usado WhatsApp para trocar mensagens de trabalho com clientes.
A SEC funciona como um regulador do mercado americano (semelhante a CVM) e obriga as instituições a manterem registros das comunicações de seus funcionários, para caso haja a necessidade de investigações das conversas.
No entanto, como o WhatApp, e alguns outros provedores de email, é criptografado, o aplicativo impossibilita o acesso da SEC às conversas dos funcionários, entre si, e com seus clientes, portanto seu uso é proibido pela regulamentadora.
A investigação começou no ano passado e já rendeu multa de US$ 200 milhões para o JPMorgan, que admitiu que a conduta violou leis de valores mobiliários. Outras instituições como Bank of America, Morgan Stanley, Citi, Barclays, Goldman Sachs, Credit Suisse, Deutsche Bank e UBS admitiram que estão sendo investigados por causa de suas comunicações, e alguns até já reservaram o valor das multas.
Renda média do setor agro apresenta crescimento
De acordo com a Pnad Contínua, do IBGE, em um período de 10 anos, a renda média do trabalho no Brasil só cresceu para o setor do agro entre os setores produtivos nacionais. O levantamento compreende o segundo trimestre de 2013 ao mesmo período de 2022.
O rendimento médio real da população empregada, formal e informal, foi estimado em R$ 1.690 na atividade de agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura de abril a junho deste ano.
Isso representa uma alta de 12,7% em relação aos R$ 1.500 de 2013, já considerando a correção pela inflação. As outras dez atividades analisadas na Pnad mostraram relativa estabilidade ou queda na renda na mesma comparação. A maior baixa foi registrada por alojamento e alimentação (-14%).
Mas, o que influenciou isso? A alta renda dos trabalhadores do agro segue o movimento de alta e valorização das commodities agrícolas na pandemia e a evolução da produtividade no setor com o avanço da tecnologia no campo.
À exceção do arroz, os preços dos alimentos subiram muito nos últimos 12 meses no mercado internacional. A liderança ficou com a alta de 42% do trigo, enquanto milho e soja tiveram reajustes de 26% e de 17%, respectivamente. O preço do arroz caiu 2% no período.
Estimativas
De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a estimativa da safra nacional de grãos de 2021/22 para o arroz prevê um volume de 272,5 milhões de toneladas, 7% acima do registrado no ano passado, mas abaixo da previsão inicial, que era de pelo menos 290 milhões.
A safra de milho, graças ao aumento da produção na safrinha, se recupera e atingirá o recorde de 116 milhões de toneladas. Já a de soja cai para 124 milhões, 10% abaixo do volume produzido no ano anterior. O potencial de produção da oleaginosa era de 145 milhões de toneladas, mas as lavouras foram prejudicadas por forte seca.
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Ipea contesta fome no Brasil
Um estudo assinado pelo atual presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Erik Alencar de Figueiredo, contesta pesquisas recentes que apontam o aumento no número de brasileiros em situação de insegurança alimentar ou com fome.
O estudo do 9º Boletim Desigualdade nas Metrópoles aponta que o número de pessoas em situação de pobreza saltou para 19,8 milhões nas metrópoles brasileiras em 2021. É o maior nível de uma série histórica de dez anos, iniciada em 2012.
Durante sua contestação, o argumento utilizado por Figueiredo, que é economista e foi subsecretário de Política Fiscal do Ministério da Economia, é que o aumento da fome deveria ter resultado em um “choque expressivo” no aumento de internações por doenças decorrentes da fome e da desnutrição, além de um número maior de nascimentos de crianças com baixo peso.
“De forma surpreendente, esse crescimento [de insegurança alimentar e desnutrição] não tem impactado os indicadores de saúde ligados à prevalência da fome, o que contraria frontalmente a literatura especializada”, afirma, no documento.
Dentro do Ipea, o material enviado por Erick Figueiredo não foi discutido e nem recebeu parecer de outros pesquisadores, algo incomum dentro dos padrões do instituto. Especialistas de outras instituições, inclusive, questionam as conclusões do estudo.
Para contextualizar:
É caracterizado como insegurança alimentar a pessoa que tem pleno acesso a alimentos em quantidade e qualidade adequados. A insegurança pode ser classificada como moderada ou grave.
No Brasil, em média 3 em casa 10 habitantes convivem com algum tipo de insegurança alimentar, segundo a ONU, que coloca o país no quinto lugar do mundo nesse ranking perverso. O levantamento é do período de 2019 a 2021.
Alvo de críticas
O estudo assinado pelo atual presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Erik Alencar de Figueiredo também foi alvo de críticas. A pesquisadora Patricia Jaime, do departamento de nutrição da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo), afirma que não dar entrada em um hospital não quer dizer que a pessoa não passou fome, e que o impacto da insegurança alimentar na saúde das pessoas demora um tempo para aparecer.
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