A Petrobras é uma potência não só na América Latina, mas também a nível mundial. A empresa está sempre no centro de discussões e o início desse ano não foi muito diferente. Por isso, estamos aqui para analisar o rumo da Petrobras durante o governo do presidente Lula.
Nossa analista política, Cindy Alvares, convidou o analista CNPI, Pedro Canto, e a economista-chefe da CM, Carla Argenta, para discutir a Petrobras, uma empresa de capital aberto que tem o Governo Federal como seu acionista majoritário.
Com a mudança de governo, especialmente com um perfil tão diferente do anterior, surgiram muitas dúvidas. Agora, passados cinco meses da atual administração, alguns pontos foram esclarecidos para os investidores, que viram a estatal se tornar a maior distribuidora de dividendos em 2022.
O futuro da Petrobras não atrai apenas os acionistas, mas também a população em geral, uma vez que as políticas da empresa têm um impacto direto no preço dos combustíveis e na inflação como um todo.
Assista a live completa: Petrobras no governo Lula: o que esperar?
Contexto atual do governo e Petrobras
Esse contexto é escrito pensando no primeiro semestre de 2023, desde a posse do presidente Lula, abordando todas as mudanças de seu governo.
Já era de se imaginar que haveriam diversas mudanças na política da empresa com a entrada de Lula no governo. No entanto, ainda não se tinha uma percepção clara do que poderia ser diferente.
As mídias acompanharam os discursos de Lula antes mesmo de sua eleição, nos quais ele expressava seu descontentamento com a política de preços praticada pela Petrobras, conhecida como PPI.
Outro ponto, que não é novidade para ninguém, é que o atual presidente brasileiro é contra a privatização de empresas estatais.
Levando isso em consideração, esses dois cenários criticados por Lula começaram a ser modificados no início de seu mandato. A primeira medida nesse sentido foi a revogação, no início do ano, em que Lula retirou a Petrobras e outras sete empresas do processo de privatização iniciado no governo anterior.
Além disso, o presidente buscou alguém de confiança e que fosse alinhado com sua visão para a empresa, para assumir a presidência da companhia, apresentando Jean Paul Prates para o cargo.
Um dos pontos mencionados por Prates logo no início de seu mandato como presidente da companhia foi a importância da transição energética, que ocupou destaque em seus discursos.
Por fim, recentemente, foi cumprida a promessa de campanha de Lula: o fim da política de paridade de preços internacionais, conhecida como PPI.
Argenta afirma que Lula enfrentou um processo complexo em relação a Petrobras, uma vez que, inicialmente, manteve a política de paridade de preços e reintroduziu impostos federais sobre esses produtos que haviam sido desonerados.
Essa medida foi uma tentativa de aumentar a arrecadação e equilibrar as contas públicas, ao mesmo tempo em que sinalizava para o mercado que o governo não era irresponsável.
Nosso analista CNPI analisa a empresa do ponto de vista do mercado, examinando os números da empresa como uma entidade. Para ele, a empresa é sólida em termos de balanço e operação, mas volátil devido à gerência política.
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Política de Paridade de Preços Internacionais
Argenta explica que o Brent é o petróleo referência no mundo inteiro. Negociado na bolsa do Reino Unido, era justamente esse petróleo que influenciava os preços da estatal brasileira. Portanto, o produto da Petrobras estava vinculado ao mercado internacional, à atividade global, à oferta e à demanda. São fatores que não são restritos nem influenciados pelo nível de atividade e pela produção doméstica.
Fim da PPI
A mudança na política de preços da Petrobras ocorreu em 16 de maio. Essa alteração foi feita com o objetivo de evitar que os combustíveis sofressem com a volatilidade dos preços no mercado internacional, o que afetava diretamente os preços dos combustíveis no Brasil.
Com essa mudança, os preços continuam levando em consideração o mercado internacional, mas também são adotadas outras referências internas.
Segundo Argenta, o novo método de precificação levará em conta as opções de combustíveis concorrentes disponíveis para os consumidores brasileiros, bem como as ambições e estratégias da Petrobras como empresa.
Argenta ressalta que ainda não é possível dizer se essa mudança é positiva ou negativa, uma vez que parte da precificação será baseada na estratégia da Petrobras, e ainda não se tem conhecimento dessa estratégia:
“O que nós podemos dizer nesse momento é que nós temos efetivamente uma nebulosidade muito grande acerca do que está por vir.”
A gasolina vai ficar mais barata?
Em termos de preços ao consumidor, o objetivo dessa nova política de preços não é necessariamente reduzir o preço dos combustíveis, mas sim conseguir uma oscilação menor.
A política de paridade de preços internacionais foi implementada durante a presidência de Temer, com Pedro Parente à frente da Petrobras.
A volatilidade na época era diária e víamos esses movimentos refletidos diariamente no preço dos combustíveis. À época, a PPI equilibrava esses movimentos, mas foi perdendo esse efeito.
Com os novos elementos de precificação, não é possível afirmar que haverá queda do preço do combustível, porque o preço ainda depende do nível de atividade, da demanda e dos combustíveis que estão é competindo entre si. Segundo Argenta
“O que é almejado pela Petrobras não é necessariamente baixar os preços, mas diminuir a volatilidade e dar mais previsibilidade para as pessoas que abastecem seus carros.”
Reação do mercado às mudanças
Carla Argenta e Pedro Canto concordam que os investidores já esperam essa mudança e o que foi divulgado veio melhor do que as expectativas, que era mais pessimistas. No after hour do anúncio do fim da PPI, as ações da empresa subiram na bolsa.
Mas Canto pondera que o resultado a longo prazo vai depender das estratégias da companhia e que será necessário colocar a política à prova. Para ele, o cenário brasileiro é propício para o sucesso da política, mas se o preço do petróleo voltar a subir ou se o dólar se valorizar significativamente, a política será realmente questionada.
Fundo de suporte para a PPI
Uma das medidas defendidas por Jean Paul Prates era a implementação de um fundo de compensação que auxiliaria na contenção dos preços dos combustíveis diante dessa mudança na política de preços.
Argenta exemplifica esse fundo: “se você tem uma gordurinha, em momentos ruins você não é tão afetado. Essa é dinâmica. É essa racionalidade que está por trás desse fundo. Agora basta saber se a gente vai conseguir fazer esse fundo e se ele vai ser suficiente para suportar períodos de volatilidade extrema”.
Segundo Argenta, o funcionamento desse fundo dependerá da magnitude dos impactos e do tamanho da reserva financeira que será constituída. No entanto, é importante lembrar que esse tipo de proteção já é utilizado em outras esferas e em outros países.
Para Pedro Canto, a ideia é muito boa, mas a pratica pode ser diferente, uma vez que ainda não foi especificado o tamanho do fundo, os valores para constituir esse fundo, a periodicidade em que os preços seriam revistos e de que forma ele seria utilizado.
Redação por Alexia Carrara, analista de conteúdo da CM, conteúdo criado em live por Cindy Alvares, analista política, Carla Argenta, economista chefe e Pedro Canto, analista CNPI.