A divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro referente ao segundo trimestre levantou questões sobre o potencial de crescimento do país em 2022. A alta de 1,2% apresentada no período faz parecer que o país destoa da grande maioria das economias do mundo, especialmente das mais desenvolvidas, que convivem diariamente com discussões sobre desaceleração ou até mesmo recessão este ano. Desta forma, o intuito deste artigo é fazer uma breve retrospectiva do que aconteceu até aqui, bem como apresentar alguns fatores que consideramos importantes ao realizarmos predições sobre o que ocorrerá nos meses remanescentes de 2022.
Evolução das Expectativas
No início do ano, as projeções de crescimento se encontravam fragilizadas em função das expectativas ruins acerca da dinâmica da atividade econômica nacional, ainda comprometida pelos desdobramentos da Covid-19, fator agravado pelo advento da variante Ômicron, que gerou dúvidas sobre a possibilidade de desaceleração econômica em função da retomada das medidas de isolamento, além do ciclo de aperto monetário que já estava sendo executado pelo Banco Central. Neste cenário, as hipóteses mais otimistas apontavam para crescimento na casa de 1%.
Passados seis meses, a realidade é diametralmente diferente, com as projeções para o PIB sofrendo constantes revisões para cima, chegando inclusive a ultrapassar a barreira dos 2% em alguns casos. Neste sentido, buscaremos entender como a economia brasileira se comportou até aqui e quais são as perspectivas para as principais variáveis do PIB brasileiro nos dois trimestres remanescentes.
O comportamento da economia até aqui
Até aqui, já tivemos a liberação do resultado do PIB dos dois primeiros trimestres, com ambos os resultados ficando no terreno positivo. Nos três primeiros meses do ano, o país apresentou crescimento de 1% frente ao período imediatamente anterior.
Analisando o resultado sob a ótica da demanda, a maior contribuição para o PIB veio da balança comercial. O crescimento de 5% das exportações somado a queda de 4,6% das importações mostra que o país aproveitou o alto nível do produto internacional para potencializar seu crescimento doméstico (aumento das exportações), e, ao mesmo tempo, conseguiu fazer com que o crescimento doméstico não “vazasse” para os outros países (queda nas importações). O consumo das famílias cresceu 0,7% QoQ, enquanto os gastos do governo ficaram praticamente estáveis. A formação bruta de capital fixo recuou significativamente (3,5% QoQ).
Pelo lado da oferta, houve queda de 0,9% no setor agropecuário, com os principais impactos provenientes da queda na produção de culturas voltadas para o mercado interno, que sobrepuseram o bom desempenho das commodities voltadas à exportação, que se mantem em bom patamar de preço. Já a indústria apresentou estabilidade no período, com crescimento de 0,1% frente ao trimestre anterior, com impactos positivos provenientes de grupos importantes como a indústria de Transformação (+1,4%) e Construção (+0,8%), além do crescimento significativo dos setores de Eletricidade e gás, água, esgoto e atividades de gestão de resíduos (+6,6%). Por sua vez, os Serviços apresentaram expansão de 1%, com os principais destaques vindo dos grupos de Transporte, armazenagem e correio (+2,1%) e Comércio (+1,6%).
Já no segundo trimestre, o crescimento do país foi de 1,2%, também adotando como base de comparação o trimestre anterior. Sob a ótica da demanda, o consumo das famílias cresceu 2,6%, o consumo do governo recuou 0,9%, a formação bruta de capital fixo cresceu 4,8%, as exportações recuaram 2,5% e as importações cresceram 7,6%. Sob a ótica da oferta, todos os setores apresentaram crescimento na base de comparação trimestral com destaque para a Indústria (+2,2%), que foi seguida pelo setor de serviços (+1,3%). A agropecuária fechou o período com crescimento de 0,5%.
O que esperar para o segundo semestre de 2022?
Para o restante do ano, alguns eventos devem ser levados em consideração ao realizarmos inferências sobre o caminho a ser tomado pela economia do país. Pelo lado positivo, o principal vetor que merece atenção é o efeito das políticas fiscais recentemente implementadas, em especial os da PEC 1, sobre o potencial de crescimento do país. Isto porque o aumento da renda disponível dos agentes que integram a base da pirâmide social deverá se reverter quase que por completo em consumo, dinamizando esta que é uma das principais fontes de crescimento do país.
A recuperação do mercado de trabalho pode exercer um papel relevante também ao proporcionar um efeito de mesma natureza para o conjunto da economia, ou seja, aumentando o nível de consumo das famílias. A materialização deste benefício, porém, está atrelada à não reversão do movimento de melhora no mercado de trabalho, processo que pode ser interrompido pelos efeitos da política monetária na economia.
E é justamente a partir daqui que nos voltamos para a análise de vetores de baixa para o PIB brasileiro neste ano. Até aqui, ainda não sentimos de fato o efeito de uma política monetária de caráter restritivo, algo comprovado pelos dados financeiros recentemente divulgados pelo Banco Central e que apontaram para uma expansão na concessão de crédito do país, de maneira que caso os mecanismos de transmissão da política comecem a funcionar de fato, variáveis importantes como o consumo e o nível de investimentos devem ser severamente afetadas.
Outro ponto importante diz respeito à possível desaceleração global que deve ter início na segunda metade deste ano. Dentre os vários efeitos negativos gerados por este processo, destaque deve ser feito para uma eventual deterioração do comércio exterior brasileiro, importante drive de crescimento como mostrado anteriormente e que corre risco de ter seu crescimento comprometido em função de um eventual arrefecimento no nível de exportações. Ainda no setor externo, as turbulências enfrentadas na esfera cambial, agravadas pelos desafios impostos pelo cenário internacional e as eleições vindouras no país, podem gerar um peso adicional por parte das importações, fazendo com que nossas exportações líquidas sofram ainda mais no final das contas.
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