IPCA desacelera para 0,71% em março: o que deve pesar para o BC?

Reflexo do retorno de impostos sobre os combustíveis, grupo de Transportes puxou avanço do índice, que veio menor do que o resultado anterior (+0,84). Veja o que o Copom pode considerar para um possível corte da Selic.

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,71% em março. O principal indicador de inflação no país reduziu o ritmo da alta sazonal de fevereiro, quando avançou 0,84%. Com o resultado divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira (11), a inflação no Brasil registrou 4,7% nos últimos 12 meses. Só nos três primeiros meses de 2023, o indicador já acumula alta de 2,09%.

Apesar da sexta alta consecutiva, os números vieram abaixo das expectativas de mercado. O Consenso Refinitiv previa inflação de 0,77% no mês e de 4,70% na comparação anual.

Oito dos nove grupos avaliados tiveram aumento nos preços. Destaque para o setor de transportes, que teve um avanço acima da média (+2,11%) de fevereiro para março e representou 0,43% do IPCA.

Além dos transportes, os grupos de Saúde e Cuidados Pessoais (0,82%) e Habitação (0,57%) tiveram a segunda e terceira maiores altas registradas.

Confira resultado dos grupos que compõem o IPCA, em ordem inflacionária:

  1. Transportes: 2,11%
  2. Saúde e cuidados pessoais: 0,82%
  3. Habitação: 0,57%
  4. Comunicação: 0,50%
  5. Vestuário: 0,31%
  6. Despesas pessoais: 0,38%
  7. Educação: 0,10%
  8. Alimentação e bebidas: 0,05%
  9. Artigos de residência: -0,27%

Segundo economistas, o avanço já era esperado pela alta dos combustíveis. A gasolina teve variação de 8,33% no mês e foi o subitem com maior impacto individual no índice de março. O etanol (3,20%) também subiu. Por outro lado, o gás veicular (-2,61%) e o óleo diesel (-3,71%) continuaram em queda em março.

Fonte: IBGE

IPCA e a volta de impostos sobre combustíveis

O centro do avanço do IPCA foi o retorno parcial dos Impostos Federais sobre os combustíveis, que não só têm impacto sobre transportes, como também no preço dos produtos transportados por rodovias. Logo, pressionam a inflação como um todo.

Aprovado em junho de 2022 no Congresso, um projeto lei zerou a cobrança de ICMS, Cide-Combustíveis e a tributação de PIS/Cofins sobre os combustíveis até o final do ano passado. O governo Lula estendeu a isenção até fevereiro, mas a cobrança voltou a valer parcialmente em 1º de março.

A reoneração atingiu cerca de R$ 0,47 por litro de gasolina e R$ 0,02 no caso do etanol. O óleo diesel continua sem incidência tributária até o final do ano, por força de medida provisória.

Apesar do peso do grupo de Transportes no índice geral, a economista-chefe da CM Capital, Carla Argenta, diz que a surpresa do indicador deste mês não foi a evolução dos preços administrados, mas sim a evolução dos preços livres, cuja característica foi bem mais positiva do que o mercado esperava”.

Decomposição do IPCA de abril. Fonte: CM Capital

Ibovespa reage positivamente ao IPCA

Acompanhado com a notícia de que o arcabouço fiscal deva ser apresentado ao Congresso já na segunda semana de abril, o IPCA abaixo das projeções foi bem-visto pelos investidores em renda variável. Horas depois da divulgação do IBGE (14h), o Ibovespa disparava 3,34% e ultrapassava aos 105 mil pontos.

“O resultado foi um bom indício para o mercado, pois alimenta as apostas de que o Copom faça cortes na Selic. Com isso, o custo de oportunidade fica mais baixo, o risco diminui e os ativos de risco, como a Bolsa, sobem”, explica Pedro Canto, analista CNPI-T.

Ibovespa 11/04/23 14h – Fonte: Investing.com

Peso do IPCA para o Copom

Se o mercado se animou com a divulgação, por outro lado, a economista-chefe da CM capital pondera que o resultado do IPCA até implica como um “vetor favorável à queda na taxa de juros, mas não é suficiente para a instituição promover essa alteração”.  

O IPCA de março mostrou que os preços livres de modo geral apresentaram inflação comportada e representam a efetividade da política monetária em boa medida. Porém, os preços administrados continuam implicando em um vetor de alta e respondem por boa parte da inflação acumulada no ano até aqui.

“O resultado tende a ser bem-visto pelo Copom. A expectativa do próprio Banco Central para a inflação de março era de 0,87%, de acordo com o relatório trimestral de inflação divulgado no mês passado. Ou seja, a surpresa inflacionária foi positiva em 0,16 p.p”, esclarece a economista.

Argenta reforça que o Bacen não tira suas conclusões com base na divulgação de um índice macroeconômico, como foi o caso do IPCA. “Ele leva em conta uma gama de indicadores que são representativos da economia como um todo” e isso precisa ser considerado.

INPC tem alta de 0,64% em março

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) teve alta de 0,64% em março. Em fevereiro, a alta foi de 0,77%. Com isso, o indicador, que é usado como referência para reajustes do salário mínimo, pois calcula a inflação para famílias com renda mais baixa acumula alta de 1,88% no ano e de 4,36% nos últimos 12 meses. Em março de 2022, a taxa foi de 1,71%.

O que esperar para o IPCA de abril?

O IPCA tende a desacelerar ainda mais em abril. De acordo com a Carla Argenta, isso deve acontecer porque o maior impacto do reajuste da volta dos impostos já foi absorvida pelo IPCA divulgado hoje. Em contrapartida, existe um movimento de pressão no sentido oposto: a correção nos preços   dos medicamentos. A Agência Nacional de Saúde concede esse reajuste em abril de cada ano. Mas a economista pontua que o teto desse reajuste, porém, não é muito elevado (5,6% apenas).

“Isso significa que as pressões inflacionárias que estão por vir são menores. Também temos a sazonalidade favorável do IPCA. No 2º e no 3º trimestre do ano, a inflação costuma ser de fato mais amena por conta dessa sazonalidade”, esclarece.

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