O cenário de inflação persistente é um dos principais responsáveis pela desaceleração das vendas do varejo. Após uma grande amplitude do setor advinda da recuperação econômica pós pandemia e um crescimento acima do esperado registrado no primeiro semestre deste ano, a indicador de Vendas no Varejo voltou a apontar arrefecimento na receita bruta das empresas.
Nesse artigo apresentamos os destaques da Pesquisa Mensal do Comércio, e como as vendas no varejo são um indicador importante na perspectiva econômica e para o mercado acionário.
A PMC
A PMC – Pesquisa Mensal de Comércio – é um indicador calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) que nos permite acompanhar o comportamento conjuntural do comércio varejista no País. O cálculo do índice é obtido a partir da receita bruta de revenda nas empresas formalmente constituídas e com atividade principal sendo deste setor.
Considerando que o principal objetivo do indicador é refletir o comportamento do setor de varejo no Brasil, pode-se dizer que há uma enorme importância dos dados para o mercado, pois além de compor a medição do nível de atividade, investidores utilizam os dados da pesquisa para antecipar o comportamento de preços das empresas e se posicionarem.
Os últimos dados divulgados pela pesquisa são referentes ao mês de setembro que apresentaram uma queda de 1,3% na medição mensal, surpreendendo negativamente o mercado e trazendo maior pessimismo para a leitura do nível de atividade do terceiro trimestre de 2021.
Destaques da Pesquisa
Os destaques da PMC no Varejo Restrito – grupo que inclui todos os bens de consumo, menos automóveis e materiais de construção ficaram por conta da queda consistente no subgrupo dos Combustíveis (-2,6% MoM) e Hipermercados (-1,5% MoM), impactados principalmente pelo aumento nos preços da gasolina e dos alimentos, respectivamente.
Os bens não essenciais, representados pelo subgrupo de Moveis e Eletrodomésticos, também apresentaram queda expressiva de 3,5% na medição mensal. Movimento comumente visto em períodos de alta nos preços, no qual as famílias buscam otimização da renda.
No Varejo Ampliado – grupo que inclui veículos e materiais de construção –, registrou uma queda de 1,1% na medição mensal, alcançando no acumulado de 12 meses uma variação de -4,2%.
Empresas Varejistas
O setor varejista é considerado sensível aos ciclos econômicos quando comparado com outros setores, o que significa uma alta correlação com os indicadores macroeconômicos, principalmente de atividade e consumo. As empresas que compõe o setor de varejo brasileiro estão expostas diretamente as condições de inflação e taxa de juros, pois necessitam de alto nível de financiamento das suas operações.
O preço mensal das ações de empresas varejistas negociadas na bolsa, que hoje representam 9,28% do índice Ibovespa, acompanham o resultado da PMC, conforme o gráfico abaixo. Vale destacar, que esse indicador utiliza a receita bruta das empresas para o cálculo, dados esses, que também são utilizados na análise fundamentalista do ativo por investidores para identificar o potencial de alocação.
Conclusão
Apesar da ampliação da circulação da população, impulsionada pela vacina, o crescimento inflacionário prejudica o consumo das famílias no que diz respeito à demanda por produtos de varejo, em especial combustíveis, que apresentou alta de preços expressiva nos últimos meses e que apresentou forte queda na medição de setembro.
Essa perspectiva deve continuar gerando revisões negativas para o PIB de 2021 e 2022, que também são afetados, negativamente, pela expectativa do mercado de alta mais agressiva nos juros, de forma que já é possível verificar tal leitura nas curvas de juros.
Assim, a expectativa é de que, com a continuidade do crescimento inflacionário, a frustração com dados de varejo deve persistir mesmo em períodos que beneficiam sazonalmente a variável, como nos casos das festas de fim de ano que impactará no balanço do primeiro trimestre. A perspectiva mais otimista em relação à atividade, como mostrado nos dados da indústria, que é ainda mais sensível negativamente a elevações da SELIC, e do varejo trazem riscos cada vez maiores para o cenário de recuperação econômica brasileira.