A última semana de outubro foi marcada pela reação do Presidente Jair Bolsonaro a uma reportagem veiculada pelo Jornal Nacional da Rede Globo de Televisão. Em síntese, noticiou-se um testemunho do porteiro do condomínio da residência da família Bolsonaro no Rio de Janeiro, no qual se afirmou que um dos assassinos de Marielle Franco teria ido à casa do então deputado federal Bolsonaro logo após o crime. A reação do Presidente foi imediata, ríspida e bélica e dominou os debates políticos e institucionais na semana que o Ministério da Economia pretendia divulgar medidas de recuperação do emprego.
No plano institucional, diversos agentes de primeiro escalão saíram em defesa de Bolsonaro. Sergio Moro, Ministro da Justiça e Segurança Pública, movimentou a Polícia Federal para apurar eventuais irregularidades do inquérito policial. Foi uma demonstração muito forte de fidelidade de Moro a Bolsonaro, pois essa movimentação do Ministro pode ser, no futuro, questionada quanto a sua correição. O Advogado-Geral da União, Ministro André Mendonça, também mandou abrir investigações sobre participação de servidores no vazamento do testemunho do porteiro. Mendonça, candidatíssimo a Ministro do Supremo, mais uma vez demonstrou total alinhamento a Bolsonaro. Destaco esse rally de fidelidade entre Moro e Mendonça, pois existe a perspectiva de indicação para as 2 próximas vagas ao STF (meu call é de que a primeira, do ano que vem, será preenchia por André Mendonça).
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Caso Marielle e o falso testemunho
Imediatamente, Augusto Aras, o Procurador-Geral da República, se manifestou arquivando um procedimento contra o Presidente e chamando o caso de factoide. O Vice-Presidente General Mourão se alinhou imediatamente a versão do Presidente. Reputo esse movimento de Mourão como o mais importante entre os que mencionei, porque é pelas movimentações do Vice-Presidente que entendemos o que está por trás dos muros dos quartéis.
Afora esses agentes de primeiro escalão do governo federal, o episódio contabilizou vitoriosos e abatidos. Carlos Bolsonaro, o filho vereador do Presidente, saiu muito fortalecido e compensou o estrago que havia sofrido dias atrás quando publicou, na conta das redes sociais do pai, um vídeo com um leão (Bolsonaro) atacado por hienas (diversas instituições). O Governador do Rio saiu abatido, pois Bolsonaro virou seus canhões contra Witzel acusando-o de manipulação das investigações e vazamentos.
A reação de Bolsonaro via vídeo gravado em um quarto de hotel, foi o estopim para bolsonaristas ativarem sua rede impressionante de comunicação via mídias sociais. O inimigo que os uniu, dessa vez, foi à rede Globo. A força mostrada pelo bolsonarismo após o vídeo assustou a oposição, mas principalmente os antigos aliados, que foram como que relembrados da capacidade direta e imediata que Bolsonaro tem com seus seguidores.
Em meio ao caos…
Nesse momento em que se notou o fim da queda de popularidade do Presidente, a tensão dessa semana foi como uma segunda facada simbólica em Bolsonaro, que ele demonstra ter capacidade de, mais uma vez, sair fortalecido. Mais acostumado com a cadeira de Presidente, sem partidos políticos comandando ministérios, com ministros apontados por Olavo e lava-jato (que são base de apoio de Bolsonaro), com o aceite de Mourão e com seus rednecks replicando incansavelmente suas versões via whatsapp, Bolsonaro vive seu melhor momento na Presidência, não importando que projetos da Economia sofram atrasos. E mais: com a reforma da previdência aprovada, agora Bolsonaro tem manancial de cobrança em cima de Paulo Guedes.
Por outro lado, o Presidente ofereceu de bandeja para a oposição e aos seus ex-aliados o que lhe tira do sério. Daqui pra frente, todo aquele que quiser tirar Bolsonaro do eixo saberá como fazê-lo. Os filhos do Presidente continuam a veicular a versão de que tudo se trata de uma disputa entre a esquerda versus direita. Mas, na realidade, essa é uma dicotomia muito mais de apelo eleitoral do que real, pois as principais oposições ao Governo não vêm da esquerda, mas de ex-aliados. Entretanto, essa narrativa dicotômica esquerda x direita ainda é eficaz porque tem capacidade de mobilização, apesar de ser falsa na concretude da política do dia a dia. E os Bolsonaros dominam esse campo da narrativa de embate direita x esquerda como ninguém.
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Escrito por Rafael Favetti, exclusivo para CM Capital e.PLUS