Você conhece a origem do Tape Reading? Há tempos, o mercado tem uma briga entre os grafistas e os leitores de fluxo para descobrir quem é melhor e mais assertivo. Bom, isso não tem uma resposta correta; o melhor é aquilo que dá certo. Mas hoje isso é levado como uma brincadeira ou até como provocação entre os participantes do mercado.
Mas o que é o Tape Reading?
Basicamente, é a análise do fluxo de preço no mercado, ou seja, a visualização de oferta, demanda e agressões aos níveis de preço. Tape Reading é uma técnica de análise de mercado que se baseia na observação dos negócios realizados em tempo real, buscando identificar a intenção dos grandes players e antecipar os movimentos de preço. E de onde surgiu essa forma de leitura?
O termo Tape Reading vem do inglês e significa “leitura de fita”, pois antigamente os negócios eram registrados em uma fita de papel que saía de um aparelho parecido com um telégrafo.
A origem do Tape Reading remonta aproximadamente ao período de 1860 a 1960, quando os primeiros pregões eletrônicos surgiram nas bolsas de valores. Os traders e investidores que tinham acesso à fita de papel podiam ver as informações mais atualizadas e precisas sobre os negócios realizados, como o preço, o volume e o horário. Assim, eles podiam inferir onde havia mais demanda ou oferta por determinado ativo e se posicionar de acordo com isso.
Mas vamos recuar um pouco na história e nos aprofundar mais.
Em 1838, em Boston, Massachusetts, nascia Edward Calahan. Querendo participar da aceleração tecnológica pós-Revolução Industrial, que terminou em 1840, Calahan largou a escola aos onze anos e se tornou telegrafista para a empresa que, anos depois, se tornou a Western Union Company, empresa essa que existe até hoje prestando serviços financeiros.
Mais tarde, na mesma empresa, porém no escritório localizado em Nova York, ele se tornou chefe de telégrafo. Durante sua vivência na cidade e trabalho, acabou se aproximando de um grupo de mensageiros que o inspirou em sua criação.
Mensageiros ou corredores, era a forma como eram chamadas as pessoas que faziam a comunicação de preços entre as casas de câmbio. Imagino que já devem imaginar o porquê de serem chamados dessa forma. Eram chamados assim porque os telegrafistas recebiam as mensagens, anotavam em um papel e os mensageiros corriam da Bolsa de Valores para os seus escritórios, atualizando os preços.
Em 1868, então, foi patenteada a ideia de Edward Calahan de criar um telégrafo que colocava os números direto em uma fita, em vez de os usuários terem que anotar em papel, na verdade esse modelo, depois avanço, deixou de ser chamado de telegrafo e virou teletipo.
Esse é o desenho feito da patente, quando lançada, sendo o primeiro teletipo desenvolvido.
Essas máquinas criadas, apesar de possibilitarem a leitura à distância, ainda eram de difícil interpretação por serem impressas em código Morse. Em 1869, Thomas Edison (o mesmo inventor da lâmpada incandescente) aprimorou o equipamento, passando a colocar caracteres alfanuméricos com uma velocidade de impressão de aproximadamente um caractere por segundo.
Depois de inventado, como passou a funcionar a negociação das ações?
Cada negociação feita no mercado agora, ao invés de ser telegrafada por uma pessoa, anotada por outra e encaminhada a mensagem para o corredor levar até a corretora, agora cada negociação vinha com o símbolo da ação da empresa, o número de ações negociadas, o preço de execução do ativo, um triângulo para cima ou para baixo de acordo com o ponto que o preço está sendo negociado, com base no preço de fechamento do dia anterior.
Vamos a um exemplo:
- AAPL seria o ticker de negociação, nesse caso, as ações da Apple.
- 48.91M seria o volume de negociação que estaria sendo relatado no momento, sendo M de 1 milhão.
- $160.77 seria o preço de negociação.
- O triângulo seria a direção que o mercado está sendo negociado, de acordo com o fechamento do dia anterior, no qual, nesse exemplo, o mercado estaria comprador.
- 1.98% seria a porcentagem em relação à diferença do preço em relação ao fechamento do dia anterior.
Com todas essas informações, é possível interpretar as agressões do mercado e intenções diretamente pelos dados oferecidos, muito próximo do que os leitores de Tape Reading modernos utilizam para fazer a leitura, não é mesmo?
Em 1880, o mercado estava dominado por essas máquinas, com cerca de mil delas espalhadas pelas corretoras. Com isso, banqueiros e corretoras decidiram, em 1890, fundar uma empresa que comprou todas as empresas de ticker tape, para garantir, dessa forma, uma precisão nos relatórios de atividade de preço e volume.
A leitura de fitas foi feita até 1960, e tornou-se uma técnica popular para traders analisarem preços e volumes de ações. Seguindo até esse ano por conta da ascensão dos computadores pessoais e das redes de comunicações eletrônicas. No meio desse processo, entre o uso de fitas, foram usados quadros para anotar preços, as rodadas de negociações e afins. Mas essa é a história do mercado americano; deixemos para outro conteúdo, em outro momento.
Essa é a história da origem do Tape Reading, que surgiu de forma tão antiga quanto os próprios grafistas. Muitos que faziam a leitura por fita desenhavam no papel quadriculado o gráfico, com os preços que eram atualizados na fita. Como falado anteriormente, o Tape Reading só surgiu por conta da evolução do telégrafo para o teletipo e porque os investidores foram obrigados a se adaptar à mudança tecnológica.
Por Vitor Piazzi, Analista Educacional da CM Capital.