Índices são importantes para acompanhar determinada situação. E um dos principais temas debatidos no campo econômico durante o primeiro semestre de 2022 diz respeito à inflação dos Estados Unidos.
Considerando o histórico recente, o país convive com uma elevação inédita em seus níveis de preço, que teve como resultado, dentre outras coisas, o aumento da pressão sob os formadores da política monetária, no sentido de reverter a política de juros baixos praticada até então como forma de controlar a escalada inflacionária em curso.
Neste cenário, a divulgação dos indicadores de inflação tem causado forte impacto no mercado financeiro, aumentando a volatilidade e os risco por investir em uma conjuntura como esta. Isto pode ser agravado caso o entendimento sobre quais os indicadores devem ser analisados, assim como suas implicações para o mundo real, não estejam devidamente claros para o investidor, tornando importante dar um passo atrás e entender a maneira pela qual é mensurada a inflação no país, o que implica compreender os índices mais conhecidos e acompanhados pelo mercado, assim como suas respectivas composições de cálculo, objetivo da análise apresentada neste artigo.
Índices de acompanhamento e composição
No caso dos Estados Unidos, as principais instituições no que diz respeito à mensuração da inflação são a US Bureau of Labor Statistics e a Bureau of Economic Analysis, agências públicas ligadas ao governo federal e que possuem vasto conhecimento e tradição na elaboração e publicação deste tipo de indicador. As respectivas descrições, bem como a cesta de indicadores de responsabilidade de cada uma, podem ser encontradas abaixo.
US Bureau of Labor Statistics
A US Bureau of Labor Statistics é uma agência ligada ao Departamento de Trabalho dos Estados Unidos, responsável atualmente pela elaboração de 4 indicadores de distintos, que cobrem a variação de preços tanto de bens e serviços internos, quanto daqueles que são importados e exportados, além de mensurar aumentos relacionados ao custo da mão de obra no país. Seu indicador de maior alcance é o Consumer Price Index (CPI), utilizado para fins comerciais e acadêmicos.
- Consumer Price Index: indicador mensal que estima variações nos preços de bens e serviços adquiridos por consumidores do meio urbano. Possui dois subíndices:
- CPI for All Urban Consumers (CPI-U): índice mais comumente divulgado pela mídia e utilizado também para fins de pesquisa acadêmica.
- CPI for Urban Wage Earners and Clerical Workers (CPI-W): índice utilizado como parâmetro para reajustes salariais no setor privado.
Estes dois subíndices são balizadores para mudanças de preços que afetam o cotidiano das pessoas, como no caso das correções de preço de bens de consumo, ou mesmo dos reajustes de aluguel e salário. Um terceiro índice, chamado “Chained Consumer Price Index” (C-CPI-U), foi desenvolvido recentemente para tentar fornecer uma aproximação mais realista do custo de vida da população frente aos dois apresentados acima.
- Producer Price Indexes: mensura as variações de preço recebido por produtores domésticos pela venda de bens e serviços, incluindo aqueles relacionados ao setor de construção. É amplamente utilizado para reajuste de preços em contratos.
- Import and Export Prices: mensura as variações de preço de bens importados e exportados, excluindo aqueles ligados ao complexo militar.
- Employment Cost Trends: mensura variações relacionadas ao custo do trabalho a partir de salários e outros tipos de recebíveis e/ou benefícios. Determinadas informações neste indicador podem ser segregadas por região, segmento industrial e ocupação.
Bureau of Economic Analysis
A Bureau of Economic Analysis é uma agência ligada ao Departamento de Comércio dos Estados Unidos e responsável pela produção de cinco índices de inflação diferentes, sendo o principal deles o “Personal Consumption Expenditures Price Index”, também chamado de PCE, responsável por mensurar variações de preços de bens e serviços para os consumidores dos Estados Unidos. Este indicador também é muito importante em função de ser amplamente utilizado para realização de estudos por economistas e outros pesquisadores.
Os indicadores relacionados à inflação fornecidos pela agência são:
- Gross Domestic Product Price Index: mensura variações nos preços pagos por bens e serviços produzidos nos Estados Unidos. Inclui preços de bens e serviços exportados e exclui o de importações;
- Gross Domestic Product Implicit Price Deflator (GDP Deflator): mensura variações nos preços da mesma cesta de bens do índice anterior, embora utilize uma forma de cálculo diferente que funciona melhor para empresas de mercado, que utilizam o indicador para fazer correções nos contratos de trabalho. É utilizado ainda como deflator do PIB, ou seja, para o cálculo do PIB real dos Estados Unidos;
- Gross Domestic Purchases Price Index: índice responsável pelo cálculo das variações nos preços pagos por consumidores, empresários e pelo governo norte-americano, incluindo o preço de bens importados.
- Personal Consumption Expenditures Price Index (PCE): índice responsável por mensurar as variações de preços nos bens e serviços adquiridos por consumidores nos Estados Unidos. Indicador usado em grande medida por economistas para realização de estudos e projeções;
- Personal Consumption Expenditures Price Index, excluding food and energy (PCE Price Index): índice PCE que exclui os grupos de alimentos e energia da cesta de bens utilizados para cálculo. A necessidade deste índice se dá em função das oscilações constantes e de grande magnitude dos dois grupos excluídos.
Perspectivas o ano
O resultado do CPI mais recente é referente ao mês de maio. No período, o indicador ficou acima da expectativa de mercado, registrando alta de 1,0% frente à projeção de 0,7%, apontando também uma forte aceleração quando comparado ao seu resultado prévio, que havia sido de 0,3% MoM. Na comparação anual, o índice acumulou elevação de 8,6%, resultado também superior à expectativa do mercado e ao seu resultado prévio, cujo valor em ambos os casos foi de 8,3%. A projeção para o indicador, de acordo com o FMI, é de crescimento de 5,32% em 2022, 2,33% em 2023 e 2,06% em 2024.
Já de acordo com as estimativas do FED, a resiliência apresentada pelo mercado de trabalho e a trajetória de alta dos salários nominais devem sustentar a pressão por parte da demanda, evitando um arrefecimento mais expressivo da inflação este ano. A projeção da instituição para o PCE ao fim de 2022 é de 5%, com o núcleo do indicador ficando 4,1%. Para 2023, a expectativa é que a inflação seja de 2,4% (com núcleo de 2,6%) e faça a conversão para 2% apenas em 2024 (núcleo de 2,2%).
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