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Entenda a repercussão de Aloizio Mercadante no BNDES

Aloizio Mercadante no BNDES
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou que Aloizio Mercadante assumirá o BNDES no novo governo. Em discurso, Lula disse que queria acabar com os boatos e fez o anúncio, argumentando que o Brasil precisa de “alguém que pense em desenvolvimento e inovação tecnológica para que esse país volte a gerar empregos”.

Quem é Aloizio Mercadante?

Atual coordenador de grupos técnicos da transição, Mercadante é formado em economia pela Universidade de São Paulo (USP). Liderou três ministérios durante os mandatos da ex-presidente Dilma Rousseff (2011 a 2016): Ciência, Tecnologia e Inovação, Educação e Casa Civil.

“Ele teve participação protagonista durante os mandatos de Dilma Rousseff. Foi uma presença efetiva em diversas tomadas de decisão importantes do governo, que não foi bem avaliado pelo mercado”, afirma Matheus Pizzani, economista da CM Capital.

Aloizio também tem mestrado e doutorado em Economia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), considerada de viés mais “heterodoxo” – pensamento econômico antagônico ao tradicional, geralmente associado à política de maiores investimentos públicos para fomentar o crescimento econômico. “Esse perfil não é bem-visto pelo mercado, tendo em vista a percepção de que isso pode envolver retomada de políticas de caráter desenvolvimentista”, explica Pizzani.

No entanto, o economista enfatiza: “é importante ressaltar que a indicação ao cargo e a leitura inicial da formação de Mercadante não são evidências suficientes para fazer projeções sobre a sua atuação no BNDES ou sua participação na área econômica do novo governo como um todo”. 

“Neste sentido, é necessário aguardar a escolha dos demais membros que vão integrar as instituições públicas ligadas à formação da política econômica do país, bem como suas respectivas declarações acerca de qual caminho pretendem seguir nos próximos 4 anos”, avalia.

Indicações

O primeiro susto veio com a possível indicação de Mercadante ao BNDES, divulgada pelo Estado de São Paulo na segunda-feira. Assusta o mercado financeiro a possível perspectiva de um retorno às práticas do governo Dilma. Na época, a instituição foi muito utilizada para direcionar crédito com juros abaixo do mercado, por meio do forte endividamento do governo.

“O Mercadante tem um pensamento econômico muito claro com relação ao desenvolvimentismo, investimento público, etc.; esses dois fatores fazem com que ele seja um dos nomes mais temidos pelo mercado e quanto mais próximo ele estiver na formação das políticas econômicas, pior a expectativa do mercado. A resistência em relação a ele no BNDES tem muito a ver com isso, ele tem um pensamento muito em linha com o que foi feito durante o governo Dilma, justamente o ‘case’ que o mercado mais tenta evitar”, explica Bernardo Livramento, cientista político da CM Capital.

Já segundo a coluna de Lauro Jardim, do Jornal O Globo, Aloizio Mercadante era um nome muito forte para ocupar a presidência da Petrobras. No entanto, para que isso acontecesse, seria preciso uma alteração na Lei das Estatais, já que não pode comandar estatais por ter atuado nos últimos 36 meses como participante de estrutura decisória de partido político.

Livramento explica que existe uma questão jurídica importante com relação a Lei das Estatais. “A gente não tem clareza exatamente de quem pode ou não. Mas, se tivermos uma clareza de que não pode e, eventualmente, o governo optar por fazer alguma mudança, ela não deve ser na Lei das Estatais”, diz.

Para o analista político, esta lei não deve mudar. Mas talvez ganhasse decretos presidenciais que poderiam alterá-la de uma maneia diferente.  Isso evitaria o estresse de uma medida provisória ou um projeto de lei. Esse seria um caminho caso o governo quisesse indicar o Mercadante”, finaliza o cientista político. Diante da complexidade do processo para incluir Aloizio na Petrobras, o presidente eleito optou por coloca-lo no BNDES.

Do ponto de vista econômico, a presença de Aloizio Mercadante em uma das instituições citadas acabou repercutindo negativamente entre os agentes do mercado em função da participação protagonista do ex-ministro e atual membro da equipe de transição no governo da ex-presidente Dilma Rouseff.

“Mercadante era figura próxima de Dilma e teve papel importante em diversas decisões tomadas no período. A má avaliação feita pelo mercado deste governo e os resultados ruins no âmbito econômico são justificativas para a aversão do mercado”, explica Matheus Pizzani.

O economista da CM Capital também pontua: “Um fator secundário, mas que também vem sendo considerado pelo mercado ao analisar o perfil dos postulantes à cargos importantes no novo governo, é a formação de Mercadante, que é economista formado pela Unicamp, centro conhecido por formar profissionais de viés heterodoxo, corrente que não é unanimidade entre o mercado financeiro”, reitera Pizzani.

Deu ‘azia’ no mercado

A segunda-feira começou com fortes emoções para o mercado financeiro. Impactado pelas incertezas diante dos próximos passos do governo Lula e a possível indicação de Aloizio Mercadante, o principal índice de ações da B3 fechou o dia em queda de 2,02% aos 105.343,33 pontos. Com a derrocada, a carteira teórica zerou todos os ganhos acumulados em 2022.

Por trás do dia tenso, pesou os rumores de que o economista Aloizio Mercadante estar cotado para assumir o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ou o comando da Petrobras. A notícia azedou o ânimo da estatal, que mesmo com o Brent em alta, derreteu fechando em queda de 3,24%, a R$ 23,91.

Para a economista e especialista em mercado de capitais da CM Capital, Nathalie Martins, a possibilidade de Mercadante assumir a presidência da Petrobras, apesar de sinalizar preferência pelo BNDES, preocupou aos investidores justamente pelo seu viés desenvolvimentista.

Além disso, a economista destaque que “o mercado interpretou mal a ideia de uma empresa da magnitude da Petrobras nas mãos do Estado justamente pelo histórico de liderança do partido no passado. Vale ressaltar que a ausência de concorrentes no Brasil é devida a participação ativa do governo sobre o setor, que no caso de uma privatização o cenário pode mudar”.

“A crítica de Gleisi Hoffmann sobre a distribuição de dividendos da Petrobrás logo após a eleição, e a possível atribuição da liderança a Mercadante, reflete na perspectiva pessimista sobre o futuro da petrolífera, materializada pela desvalorização do papel”, finaliza Martins.

No momento da confirmação, aproximadamente às 16h04, o Ibovespa trabalhava na faixa dos 105 mil pontos. Pouco tempo depois, o índice despencava para o patamar dos 103.300 pontos. (Veja na imagem abaixo)

Fonte: Bloomberg

Para a economista chefe da CM Capital, Carla Argenta, o movimento é motivado pela expectativa ruim do investidor, que remete ao pior cenário da gestão petista na presidência do Brasil e ao papel que o BNDES tinha naquele momento.

“O mercado toma como base a posição do PT no passado, trazendo à memória a crise vivida no governo Dilma. Mas a simples indicação de um político petista para a presidência da instituição não é suficiente para afirmarmos que isso voltará a acontecer. Precisamos ter conhecimento sobre as propostas concretas, entender o que, de fato, será feito e quais serão os impactos de tais medidas, e nada disso foi anunciado”, explica Argenta.

Por fim, Alex Carvalho, analista CNPI-T da CM Capital, explica o porquê de o mercado trabalhar de forma negativa, assim como a Petrobras: “Existe um certo receio com relação a possíveis empréstimos para outros países, principalmente, quando se fala de um governo de esquerda, existe um medo do mercado de que haja empréstimos a outros países, do que a própria política interna de desenvolvimento”.

No entanto, segundo Adriana Fernandes, do Estadão, em conversa na solenidade de diplomação de Lula no TSE, Mercadante conversou com o presidente da Febraban, Isaac Sidney, e descartou a volta da política de subsídios adotada em governos passados.  

Agenda da semana: Prévia do PIB e Taxa de juros dos EUA

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